SOBRE Marlos Bakker
Com mais de 26 anos de carreira, iniciou sua trajetória na fotografia ao trabalhar nos estúdios da Editora Abril em 1996, onde assinou diversos editoriais e capas de revistas renomadas. Em paralelo, sob forte influência familiar, sempre teve proximidade com a Arte através da música, teatro e cinema, o que somou para que amadurecesse a sua técnica na criação de uma linguagem própria. Marlos cria imagens de natureza empática e espontânea a partir da realidade que se apresenta a sua frente, refletindo temas contemporâneos como vigilância, privacidade, esquecimento, polarização, encontros, além de questões sociais que o angustiam. É vencedor do Prêmio Brasil Fotografia (2015), já realizou diversas exposições e possui obras em coleções como Pinacoteca de São Paulo e Museu Oscar Niemeyer.
SOBRE “ECOS DE HAVANA”
Em Havana, uma das primeiras coisas que chama a atenção é a passagem do tempo impressa nas fachadas de prédios marcados por décadas de abandono, em parte, consequência do embargo econômico imposto pelos EUA. Quarteirões da cidade se revelavam como ruínas a céu aberto. A sensação de uma realidade transitória, como as lembranças ou memórias, sempre incompleta, imperfeita, como as impressões deixadas por um sonho ao despertar.
Os vestígios da revolução em busca de uma sociedade mais justa, mesmo que desgastados pelo tempo e oprimidos por um mundo que prefere esmagar a acolher outros modos de viver, ainda ecoam e vibram em suas ruas, prédios e habitantes, como uma utopia que não quer ser esquecida.
Em longas exposições, os traços deixados pelo ir-se do tempo ocupavam essa zona híbrida, entre o instante e o fluxo, deixando-nos pressentir o tempo e sua ação.
SOBRE “CITYSCAPES #2”
Nas últimas décadas prédios comerciais e hotéis luxuosos, localizados em centros financeiros ao redor do mundo, foram difundidos globalmente como epifanias de uma era que super valoriza a tecnologia, o consumo e a velocidade. Do ocidente ao oriente, altas torres fazem com que, num piscar de olhos, cidades distantes se pareçam cada vez mais entre si. São os símbolos contemporâneos de poder e cultura, as novas igrejas, porém não mais identificados com uma nação. Enquanto isso, nos movemos a pé aqui por baixo nos vendo retratados em espelhos de centenas de metros de altura e nos sentindo, por mais breve que seja, uma forma mais avançada de vida, satisfazendo nossa necessidade de se ver refletido em tudo o que é novo.
Com influência surrealista de De Chirico, Bacon e Dali, o contraste entre a desolação das formas geométricas e a fluidez do corpo humano, um pedaço de carne sendo digerido pelo animal mutante que é a cidade, cria paisagens misteriosas e desconexas, pelas quais uns poucos personagens anônimos vagueiam num estado de transe.